quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

BIGODINHO ENGANADOR

O meu querido amigo Marco Zamponi, o ZAMPA, que para tristeza de todos os que o conheceram já nos deixou, era uma das maiores figuras deste mundo. Jornalista inteligente, astuto, capaz de fazer rir a todos por muito e muito tempo com suas histórias ("o tema é verdade - garantia ele - mas às vezes eu crio em torno da história). 

Carioca, sotaque carregado e aventureiro, foi morar na Europa ainda jovem, já com  bom conhecimento do automobilismo mundial. Como todo jovem, tinha suas dificuldades de sobrevivência. Vida dura, dependendo de favores dos amigos e pilotos que seguiam para o velho continente tentar a sorte atrás de um volante. 

Morava em Londres e tinha um Mini. Mas aqui é preciso abrir um parenteses para mencionar que o ZAMPA passava - e bem - dos 100 kg de peso. Vivia acompanhando provas pela Europa, especialmente F1. E não poderia deixar de ir até Mônaco para acompanhar a corrida mais charmosa do Mundo. Conseguiu uma carona de avião e foi para o principado. 

Lá, com  o bolso e estômago vazios, o querido ZAMPA se deparou com um jornalista carioca como ele e mencionou suas dificuldades. O cara, todo posudo (hic!) disse: olha ZAMPA, posso te ajudar. Você carrega esta pasta para mim que te pago 100 dólares. Contando a história para os amigos ele dizia: "na hora eu pensei se mandava o cara à ou para a PQP. Mas aí pensei que com aquela grana eu poderia comer uma semana em Londres. E aceitei".

Carregando pasta pra lá e pra cá, ele acompanhou o jornalista (sic!!!!) até que este apontou para um homem mais adiante, cercado de belas mulheres e disse: olha lá o Graham Hill (participou da F1 entre 1958 e 1975, sendo campeão em 62 e 68), vamos entrevistá-lo. 

ZAMPA ponderou que não deveria ir até lá, mas diante das ameaças de lhe ter tomada a pasta e, claro os 100 dólares, cedeu. O cara chegou lá e falou: Graham Hill, sou jornalista do Brasil etc, etc, etc ... e começou a perguntar coisas para o "piloto". As moças riam e o entrevistado também. E o ZAMPA com cara de zombeteiro. 

Depois de muitas perguntas, o ZAMPA afinal se manifestou: cara, este aí... foi interrompido bruscamente pelo jornalista que ameaçou novamente tomar-lhe a pasta e cancelar o "contrato". 

Mas, desta vez, o "carregador" não aguentou e disse: cara, este aí não é o Graham Hil, é o David Niven, conterrâneo do piloto inglês e também campeão na sua categoria, tendo ganho o Oscar de melhor ator em 1958, por sua atuação, por apenas 15 minutos, no filme "Separate Tables", "Vidas Separadas" aqui no Brasil. 

Ele deveria ter ganho também o Oscar de melhor interpretação de um piloto de F1, porque respondeu às perguntas do equivocado jornalista com maestria. Como se fosse o verdadeiro Graham Hill

A razão do equívoco: bem, primeiro pela arrogância. Se tivesse ouvido o ZAMPA, não teria "pago aquele mico", depois, talvez porque ambos tinham Graham no nome (o ator era James David Graham Niven). E o principal era o característico bigodinho inglês, fino e comprido, que emoldurava a boca de ambos.

Nunca perguntei, nem o ZAMPA falou, se recebeu ou não os 100 dólares. Mas o que vale mesmo é a história que ele contou. ?

Obs: É preciso esclarecer, aos que não sabem, é que David Niven era apaixonado pela F1 e assistia a todos os GPs que podia.

Quem é este, David ou Graham?

E este, é o piloto ou o ator?

À esquerda, com capacete de aviador, Graham Hill. À direita, com capacete de piloto, David Niven. Será isso mesmo? Confira!

Hill pilotando e o incrível e querido Zampa.



sábado, 23 de fevereiro de 2019

SÉRGIO APARECIDO, O UNÂNIME!!!

Serginho e seus vícios: Elvis, na gravata, e o cigarro entre os dedos.

Com certeza, alguns, entre o pessoal da nova geração da Toyota (que hoje comemora seu Dia Mundial), não conheceram o Sérgio Aparecido que atuou no setor até o início deste século, pelo jornal A Tribuna, onde ele foi, no início dos anos 70, um dos pioneiros no jornalismo automotivo, com o seu Jornal Motor. Mas, com certeza também, Mark Hogan, um dos nomes importantes, hoje na Toyota, conheceu o Serginho, que era unanimidade no setor, com seu bom humor, sacadas geniais e grande profissionalismo. Era apaixonado por carros. E pelo Elvis Presley.

Serginho era capaz de coisas sensacionais como, por exemplo, fazer com que o ponteiro do marcador de gasolina ser mais rápido que o do velocímetro, numa incrível viagem entre Santos e São Bernardo, de apenas 40 km, consumir o tanque de um Charger RT, que chegou à sede da Chrysler com pane seca. 

Outra foi numa edição do Salão de Paris, tirar do ar a CNN, quando, involuntariamente, puxou o cabo que levava energia para o estúdio que a emissora ali montara para cobrir o evento. Ele puxava um carrinho, levando press kits que eram distribuídos pelas montadoras. Hoje eles foram substituídos pelo pen drive ou um simples endereço do site.

Contando com o bom humor do Serginho, seus colegas brasileiros lá em Paris, prendiam o carrinho para perturbar o pobre coitado. Só que, uma hora o Serginho perdeu a paciência e puxou com muita força o carinho que estava preso. Mas não era nenhum colega e sim os cabos da CNN, que saiu do ar. Um enorme segurança aproximou-se nervoso e perguntou, em inglês, o que ele estava fazendo ali. “Just walking” foi a resposta. De onde você é? E veio a resposta que só o Serginho poderia dar: “I am from Argentina”. E foi embora.

Elvis, sua paixão


Nunca vi um cara amar tanto um ídolo, como o Serginho amava Elvis Presley (bem, talvez o Ricardo Caruso, que até já escreveu um livro sobre o cantor e tem pedras da casa dele). Na sua casa tinha até um telefone que tocava com a voz de Elvis cantando “Love me tender". Amava e imitava o ídolo. Uma vez, numa casa de espetáculo em São Paulo fomos, eu ele e o Caruso, ver “o melhor cover de Elvis Presley do Brasil”. Os dois não escondiam a  ansiedade. Serginho foi com uma bela camisa com a estampa do Rei do Rock.

Quando o artista entrou, com cabeleira e roupa iguais as do cantor, pensei que os dois iam ter um “treco”, tamanha emoção. O show começou e o cover passando entre as mesas, ia entregando o microfone para alguns frequentadores. Foi seu erro. Quando o deu na mão do Serginho, ele se inflamou e mandou lá um “Love me tender” e o público “veio abaixo”, não parando de aplaudir. E o Serginho não queria parar de cantar.

Quando devolveu o microfone para o artista ainda se ouvia: deixe ele cantar, deixe ele cantar!!!!!! Ele era melhor que o cover. Muito melhor!

Na casa do Rei, o desmaio


Outra dele com o Elvis,  esta na casa do seu ídolo, em Memphis, nos EUA. Em visita à casa, Serginho conseguiu que a zeladora o autorizasse a vestir a roupa de Elvis (há dúvidas sobre essa autorização, mas aqui o que vale é a versão e não o fato). Ao sair do quarto para ir até o salão onde encontraria seus colegas, Serginho não viu uma porta de vidro e... pum!!!!! Desmaiou!

Há que garanta que, antes de bater com a cabeça no vidro, ele já havia desmaiado. De emoção, da mais pura emoção, por estar vestindo as roupas do Rei. Na casa do Rei.

Na última quarta-feira, Serginho foi ao encontro da sua maior paixão, o Rei, Elvis Presley, que não morreu. Assim como acontecerá com as nossas lembranças do Serginho, nosso querido amigo.



terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

CENAS URBANAS


A sede bateu e a farmácia foi providencial. Ali encontrei água mineral, sem gás, para comprar e, também ali, assisti a uma das mais belas cenas dos últimos tempos. Uma moça, meio fora do peso, vestindo blusa verde e saia preta, entrou na farmácia, e foi direto para a balança.

Senti algo no ar e continuei olhando para ela que subiu na balança, colocou a bolsa no ganchinho tirou o sapato e, quando viu o resultado da pesagem, transformou-se no artilheiro do time, fechou os punhos, balançou-os, sorriu e soltou um "yes" de conquista. 

Um sorriso largo, lindo, emocionante. E quando olhei nos seus olhos, eles lacrimejavam. 

Com certeza vencera uma etapa da guerra com a balança e demonstrou isso para quem quisesse ver. 

Eu vi e fiquei feliz por ela, que saiu da farmácia com um sorriso. Torço para que ele se repita na próxima passagem pela droga Raia, na esquina da Conselheiro Nebias com a Afonso Pena, na minha amada Santos. 


sábado, 16 de fevereiro de 2019

A ARARA QUE CONQUISTOU UMA CIDADE


Tudo começou quando o Instituto Arara Azul, com sede em Campo Grande (MS), lá no começo dos anos 90, com a colaboração da Fundação Toyota, iniciou um trabalho para salvar a Arara Azul da extinção. Elas eram apenas 1.500 indivíduos (como falam os especialistas).

Deu certo! E hoje já passam dos 6.500.

Agora, um novo projeto, o Aves Urbanas, também com o apoio da Fundação Toyota, deu novas cores à arara. Ela deixou de ser só azul, agregando duas novas, o amarelo e um pouco de verde. E virou Canindé, o xodó de Campo Grande e também, oficialmente, a “Ave Símbolo da Cidade”, conforme relata a presidente e fundadora do Instituto Arara Azul, a bióloga Neiva Guedes.

Em 2009 elas foram chegando...  chegando e os moradores as recebendo bem. Foram fazendo seus ninhos em troncos de palmeiras mortas e hoje eles já são mais de 200 e mais de 500 filhotes nascidos desde então. Em uma pesquisa feita pela bióloga Aline Calderan, foi constatado que 90% da população de Campo Grande gosta das araras, não se incomodando com suas algazarras ou sujeira que estão acostumadas a fazer.

Em seu trabalho de mestrado na Universidade Anhanguera Uniderp, a bióloga, que atua no Instituto Arara Azul e no Projeto Aves Urbanas, revela que o questionário aplicado “permitiu conhecer o perfil social e fazer uma análise da percepção ambiental dos entrevistados, saber se eles consideram as araras Canindé importantes para a cidade e se elas são bandeira para a conservação da da biodiversidade urbana”.

Segundo Aline, foi possível constatar que os entrevistados, em sua maioria, têm interesse por questões ambientais e “percebem a  importância da biodiversidade urbana e dos serviços ecossistêmicos que ela fornece, sabem que o homem faz parte deste meio e que a falta de conservação reflete na sobrevivência dos seres vivos, todavia, nem todos praticam ações que ajudem na conservação das áreas verdes urbanas”.


Para os moradores de Campo Grande, a arara Canindé é muito importante para a visibilidade da cidade e pode ser usada “como espécie-bandeira no processo de sensibilização e conscientização”.

Além disso, acrescenta Aline “foi observado que nas sete regiões analisadas na cidade, a idade, a escolaridade e o sexo, não influenciaram negativamente a percepção dos moradores com relação a importância das araras para Campo Grande, já para a necessidade de se praticar a conservação das áreas verdes urbanas, todos consideram que esta prática é essencial”.

População ajuda construir ninhos

Uma prova da aceitação das araras por parte da população é o fato de muitas pessoas cortarem as copas das palmeiras para que as aves façam ali seus ninhos, nos quintais ou frente das casas. Outros pintam murais ou produzem peças de artesanato sendo a Canindé o tema principal.

E agora, no rastro das araras Canindé, estão chegando outras espécies para ampliar o Projeto Aves Urbanas. São os Tucanos e os Maracananzinhos de Cara Amarela, que se aproveitam dos ninhos abandonados pelas queridinhas da cidade para ali se instalarem.





terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

UM CONTO: A HISTÓRIA DE UMA CASA

                                                                                                                                               Foto: Blog do Ralph Giesbrecht

Era uma casa charmosa. Não exatamente bonita pelos padrões atuais de arquitetura, mas muito, muito charmosa. De rara elegância.

E era também orgulhosa. Sabia que era a mais bem tratada da rua dos Albéricos (ninguém nunca soube o porquê do nome, nem conheceu ninguém com ele que lá tenha morado). Seus encanamentos eram de primeira, em cobre, assim como a parte elétrica. Tudo com manutenção preventiva. O telhado era um primor e abrigava um simpático sótão, usado como atelier de costura e também escritório. Pé direito com quase 4 metros de altura, azulejos portugueses, todos os cômodos grandes e uma largueza de cozinha e copa. Aqueles armários, despensa, lavanderia, quarto de empregada, com banheiro anexo. Muito melhor que os empreendimentos modernos com varanda gourmet.
Pintura? Todos os anos. Pena que não podia palpitar na cor. Bem que gostaria. Iria pedir aos Souza que usassem uma tal de marrom-toledo, pois, pelo som, ela lhe cairia muito bem.
Mas, naquele ano o amarelo-claro era a cor. No jardim,  girassóis, camélias, rosas e margaridas encantavam os passantes. No quintal, a horta abrigava pés de tudo. Tinha  couve, alface, tomate, cebolinha, coentro, cheiro-verde, abobrinha, pimenta, e tudo o que se quisesse imaginar. Tempero não precisava comprar, pois ali de tudo se encontrava.
Tinha também mamona, ótimo produto para manter fortes e bonitos os cabelos, comigo-ninguém-pode e espada de São Jorge para “proteção” da família. Algumas bananeiras, dois pés de “mixirica”, outro de carambola, que hoje chamam de estrela e vai até em salada, e um de jabuticaba. Uma delícia de quintal! Ah, tinha também alguns patos, galinhas, que produziam ótimos ovos. Tudo muito bem cuidado pela vó Eva que também respondia pela cozinha, com a ajuda da Luzia, sua simpática colaboradora há mais de 30 anos. Juntas elas faziam coisas que até os deuses chegavam para almoçar ou jantar.
Por dentro, uma decoração simples e aconchegante. Seus donos eram ‘do bem”. Gente boa mesmo. Nos quartos das crianças, a decoração, se é que se pode chamar assim, era resultado da idade de cada um: a menina, com 11 e o garoto, com 14. No do Sérgio, hoje quase avô, fotos do Pelé  e Garrincha e Cláudia Cardinale nas paredes. E uma bagunça em volta da escrivaninha, com as meias, tênis, shorts e camisetas, sempre fora do lugar. Na época ainda não existiam as modernidades eletrônicas dos dias atuais.
No da Flávia, que hoje viaja pelo mundo fazendo palestras sobre o meio ambiente, tudo arrumadinho. A escrivaninha sempre correta e fechada após o uso. Cada coisa no seu lugar, inclusive as bonecas, sempre penteadas e usando roupinhas limpas. Uma doçura!
Mas cada um era dono do seu nariz e, neste aspecto, ninguém se intrometia no quarto alheio.
Na suíte dos pais, Carlos e Maria Ignês, um ambiente com cara de pais. Nada mais, nada menos. Uma Sonata para tocar os LPs românticos nos momentos íntimos do casal, uma bela e antiga penteadeira, armários embutidos combinando. Tudo muito bem cuidado, se bem que, vez por outra, sobrava um par de meias, masculinas, (sempre elas) ao lado da cama.
A casa não poderia estar melhor localizada. A rua era  larga, “tranquila”, muitas árvores, pavimento ainda em bom paralelepípedo e apenas trânsito local. As casas vizinhas tinham características muito semelhantes, mas não eram como ela. Eram todas muito bem cuidadas, com suas calçadas sempre limpas e muros baixos que deixavam ver seus jardins, mas não tão bonitos como o da 148, onde moravam os Souza.
Quem morava na rua?
Pessoas tão boas quanto os da casa 148. Tinha comerciante, bancário. Do Banco do Brasil, claro! Dois médicos, um doutor engenheiro da Light. Aposentados que moravam com seus filhos, como a dona Eva, que era a dona da casa. Tudo gente boa, que se conhecia desde sempre. Gente que se dava bem. Tão bem que geraram alguns casamentos ali na rua mesmo. A Cidinha, do 35, por exemplo, casou com o Jorge, do 38. Passaram muito tempo se olhando das respectivas janelas. Depois, tinham uma janela só. Seus dois filhos ganharam também suas janelas. Moravam com o pai dela, aposentado.
De vez em quando, surgia uma briga de moleques. Mas era  tudo resolvido na hora, com um ou outro puxão de orelhas. E a vida na rua voltava ao normal.
Os cães andavam por lá, meio que soltos. Os gatos também. Mas não havia chance de brigas. Não que a harmonia da rua influenciasse cães e gatos, tornando-os amigos. É que, por uma razão de segurança, os gatos andavam sempre sobre os muros, só correndo riscos quando atravessavam de um lado para o outro.
E não pensem que aquela era uma rua numa cidadezinha longe da capital. Era ali mesmo, na grande metrópole, mas tinha a cara de viela de cidade do interior. E das pequenas.
A casa se sentia muito feliz ali.
Pela manhã, o movimento das crianças, que saíam de casa, malas nas mãos (ainda não haviam inventado a mochila escolar), chutando pedras, chamando os amigos atrasados, fazendo confusão com os cachorros, espantando os gatos. Quando a molecada ia pra escola, o sossego da rua acabava e ninguém mais dormia naquela rua. Mas era coisa de 10 15 minutos e a paz voltava.
A vida era harmoniosa na rua daquela casa.
Mas, num dia qualquer, a rua dos Albéricos acordou mais cedo,  com um bando de pessoas estranhas andando de lá pra cá, de cá pra lá. Carregavam nas mãos uma coisa que mais parecia um binóculo. - O que estariam fazendo ali? - pensou a casa dos Souza.
- Que povo é este tirando a tranqüilidade da nossa rua? Indagou a casa a si própria, sem resposta.
- Que tanto eles olham com aqueles binóculos? Estão me vigiando. Tenho certeza disso. Por quê? Será que estão me medindo para aumentar o IPTU? Coitado do meu dono, já gasta tanto dinheiro com imposto e não recebe nada em troca.  Paga IR, INPS, “I” isso, “I” aquilo e nenhum retorno. Ele também paga a Guarda Noturna. A única coisa boa grátis era a escola pública, que perdeu a qualidade depois do período militar e nunca mais se recuperou. Ela lembrou que ele também fazia poupança para ter uma aposentadoria decente, porque se fosse depender do governo, ia morrer de fome quando parasse. É só imposto, imposto, imposto. E muita promessa.
Os homens de “binóculos” ficaram por ali de um lado pro outro, anotando, anotando, pela manhã inteira e se foram sem que ninguém conseguisse descobrir do que se tratava. E as vidas da rua e da casa 148 voltaram ao normal.
É preciso abrir parênteses para contar que ninguém soube do que se tratava porque, justo naquela manhã a dona Pura, a fofoqueira, que sabia de tudo,  na rua, tinha ido ao Centro, para compras, e só voltou à tarde.
Tempos depois, antes que ela conseguisse saber o que acontecia, os moradores da rua receberam um questionário da prefeitura perguntando sobre seus destinos: dali, iam pra onde? Centro, outro bairro, fora da cidade? Não havia explicações para as perguntas. As pessoas estavam satisfeitas com suas vidas?
Gentis que eram, responderam sem dar muita atenção à pesquisa. Todos é modo de dizer, porque a dona Terezinha, da casa 53, não respondeu. Era gente boa, mas muito rabugenta e avessa a que alguém se metesse na sua vida.
- Pra que querem saber da minha vida? Eu vou pra onde quero! - esbravejou!
Mas, num outro dia, ensolarado, em que cães e gatos seguiam cada qual pelo seu caminho, apareceu uma perua com alto falante - exatamente como aquelas que vendem “Pamonhas, pamonhas fresquinhas de Piracicaba” - anunciando “uma nova vida no bairro”. O locutor falava de transporte público, linhas de ônibus, melhor acesso ao centro.
Faixas foram colocadas anunciando a criação de linhas de ônibus para “facilitar” a vida de todos.
E, o pior: a prefeitura iria asfaltar a rua dos Souza.
A casa não entendia nada. Nunca soubera que alguém na rua reclamara da falta de nada. Ela, nas conversas com as outras casas, só ouvia elogios para o sossego do lugar.
E, se a casa não entendia, os moradores muito menos. Afinal, a escola era perto e a molecada ia e voltava a pé.  Para ir ao centro, quem não tinha carro, não se importava de andar três quarteirões para pegar o ônibus da avenida. O paralelepípedo, que fora bem assentado, não causava problemas, a não ser quando o “boyzinho” da 147 acelerava demais o Opalão do pai em dia de chuva. Era o maior auê e uma enxurrada de reclamações da rua inteira.
- Devem ser aquelas coisas de político que inventavam (e inventam até hoje) pra atormentar a vida das pessoas. Onde já se viu – esbravejava dona Terezinha – ônibus na nossa rua?! Aqui vai virar um inferno, ainda bem que o falecido não viu isto, porque ele iria morrer de tristeza.
Aquilo uniu ainda mais os vizinhos dos Souza. Fizeram inúmeras reuniões, prazerosamente fornidas de bolinhos de chuva que a dona Eva preparava com esmero e carinho. Foram falar com o vereador do bairro que, claro, lamentou-se, esquivou-se e nada resolveu, como sempre fizeram e fazem, ainda, todos os políticos desta terra descoberta por Cabral.
Correram à prefeitura e lá o alcaide também tirou o corpo fora, dizendo que não podia impedir o “progresso”.
E ele chegou com o asfalto, linhas de ônibus, um roubo aqui, outro ali. E com a maior das tristezas. Dona Terezinha ficou doente, os filhos venderam a casa e foram todos embora. O vizinho dela também desistiu de enfrentar aquela bagunça e foi-se. No lugar das duas casas surgiu o magnífico “Chateaux La Plage”, que tinha apartamentos com cinco suítes, 18 vagas de garagens, segurança máxima, piscina, quadra de tênis, de bocha, academia de ginástica. Um primor de lançamento. Mas, mesmo com a enorme garagem, sempre tinha muito carro sobrando e já não havia como parar carros dos visitantes na rua dos Souza.
Mais gente se mudou deixando terrenos para novos e modernos empreendimentos imobiliários. Cada vez mais sofisticados. Cada vez maiores e mais altos.
E a casa foi ficando preocupada com aquilo. O próximo prédio tomou-lhe o sol. Era o fim do jardim da dona Eva. E junto com ele foi boa parte do pomar e toda a horta. Sobrando mesmo só as bananeiras, a “comigo ninguém pode” (e não pode mesmo) e um pálido pé de “mixirica”.
Naquele ano a pintura não foi programada. Nem executada. Um problema no chuveiro das crianças não foi reparado em definitivo, apenas um consertozinho. Algo havia na casa dos Souza e ela começou a ficar preocupada. Mais ainda quando foi programada uma viagem de férias de todos. Antes de viajarem, os Souza falaram sobre os problemas da rua, da dificuldade em viver sem o sol, sem os amigos que os haviam deixado, praticamente sozinhos nas ruas. Até o gatos sumiram.
E saíram em férias.
E lá deixaram a casa, fechada, às escuras, sem sol e sem o canto dos pássaros que há muito deixaram de “freqüentar” aquela outrora pacata e atraente rua para os bichos de penas.
Foi duro para ela. Estava desesperada diante do abandono. E começou a usar todos os meios para comunicar-se com outras casas. Mandava mensagens pelas antenas da TV, pelo fio do telefone, fios da Light, canos de água, pelos passarinhos.
Pedia socorro.
Sabia que estava prestes a desaparecer e ter suas portas e janelas em pinho de riga serem disputadas por um alto dirigente da indústria automobilística, que era louco por elas.
Mas ela não ia entregar os pontos assim, sem lutar. E continuou pedindo socorro a outras casas.
Quase um mês depois, a família voltou, sem muito entusiasmo, para a rua dos Albéricos. Para a casa 148.
Ao pararem no portão, encontraram um terreno vazio.
Assustaram-se. A vó Eva não acreditava no que via e pensava se as imobiliárias teriam tido a ousadia de demolir a casa na marra – afinal, neste País, tudo é possível mesmo, não é?
Todos desceram do carro, abriram o portão e viram aquela placa, bem no centro do terreno:


MUDEI PARA A RUA DA ALEGRIA, 77.
LÁ VOCÊS SERÃO BEM-VINDOS.

Obs: a Rua da Alegria tinha apenas casas. A dos Souza estava pintada de marrom-toledo.



sábado, 9 de fevereiro de 2019

ÁGUAS DA MANTIQUEIRA? É COM A TOYOTA!


Visando a conservação da biodiversidades e restauração ecológica em remanescentes da Mata Atlântica no condomínio Country Clube Campos do Jordão, em Santo Antônio do Pinhal (SP),  a Cetesb firmou termo de compromisso de recuperação ambiental. O acordo é orientado pelo Projeto Águas da Mantiqueira, desenvolvido pela Fundação Toyota do Brasil em parceria com a Fundepag (Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio), a prefeitura de Santo Antônio do Pinhal e representantes da comunidade local.

O principal objetivo é o uso sustentável das bacias hidrográficas. No total, serão restaurados 14 hectares no entorno de áreas de preservação permanente no município pinhalense.

As ações seguirão até dezembro de 2020, incluindo práticas de manejo para a remoção de espécies exóticas (não nativas) e técnicas para acelerar a regeneração natural - todas no perímetro de áreas de preservação permanente. A restauração conduzirá o remanescente de vegetação natural à sua estabilidade, retornando assim as suas funções de provedores de serviços ambientais, particularmente recursos hídricos. O acordo com a Cetesb ainda inclui os mesmos procedimentos em uma área externa do condomínio Country Club Campos do Jordão, em outra bacia hidrográfica, contribuindo nos mesmos objetivos de conservação. A Cetesb receberá relatórios e a expectativa é de que possa replicar esses procedimentos em outras áreas e municípios.

“Entre os objetivos do termo assinado pela Cetesb estão garantir a integridade e a sustentabilidade da biodiversidade local, protegendo os recursos hídricos e preservando a qualidade e a quantidade de água. É importante lembrarmos sempre que a região abriga nascentes de rios importantes que abastecem o sistema Cantareira e formam o rio Piracicaba”, destaca José Roberto Manna, Coordenador do Projeto Águas da Mantiqueira.

O condomínio de lotes Country Club Campos do Jordão está localizado na importante bacia hidrográfica do Machadinho, em Santo Antônio do Pinhal, com perímetro de 62 hectares e vegetação nativa de densa floresta. Desta área, 85% foram convertidos em atividades agropecuárias, lotes residenciais e 14,5 hectares estão em Áreas de Preservação Permanente. 

“A Serra da Mantiqueira é uma cordilheira com importantes remanescentes de Mata Atlântica e reconhecida em estudo publicado na Revista Science como a oitava área mais rica em biodiversidade do planeta, além de ser um dos maiores estoques de água mineral do mundo. Por isso, sua conservação é de extrema importância. O Projeto Águas da Mantiqueira já conta com algumas diretrizes implementadas pela Prefeitura de Santo Antonio do Pinhal, mas este reconhecimento da aplicabilidade do Projeto na recuperação de áreas degradadas por parte da Cestesb reforça a importância da metodologia da  restauração ecológica essencial para a manutenção dos recursos hídricos na região, já que a floresta nativa é a melhor embalagem para a água”, afirma Thaís Guedes, coordenadora do projeto pela Fundação Toyota do Brasil.
Projeto Águas da Mantiqueira

Criado em 2017, a iniciativa Águas da Mantiqueira é gerida pela Fundação Toyota do Brasil em parceria com a Fundepag (Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio), a prefeitura de Santo Antônio do Pinhal e representantes da comunidade local.

O projeto tem como foco realizar pesquisas para conservação da biodiversidade, objetivando o planejamento territorial e desenvolvimento socioeconômico de forma sustentável dos municípios localizados na Serra da Mantiqueira.



quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

PILOTO DA KOMBI ARRASOU NA "F1"


Se usarmos a imaginação para transformar a Via Anchieta num circuito, vamos imaginar que, lá pelos anos 80, um motorista/piloto de Kombi arrasou na Fórmula 1, “levantando poeira” para um dos maiores ídolos da temporada, o Escocês Voador, Jack Stewart.

Naqueles tempos, quando da prova de Interlagos, o piloto brasileiro José Carlos Pace, o Moco, desaparecido precocemente em um acidente de avião, promovia almoço na casa dele, no Guarujá. Lá recebia amigos, entre pilotos, membros de equipes e jornalistas. Em um deles o Escocês chegou um tanto quanto furioso e dizendo algo mais ou menos assim: agora eu sei porque o Brasil tem tantos pilotos. Agora eu sei!

Indagado sobre a razão das suas “insinuações”, ele contou que estava ao volante de um carro, descendo pela Anchieta, curtindo “as curvas da estrada de Santos”, como cantou o Rei Roberto Carlos, quando chegou naquela que é conhecida com a “Curva da Onça”.

Metros à sua frente, uma Kombi seguia rapidamente pela estrada. E quando Jack se aproximou, o "piloto" da Kombi acelerou e entrou na “Onça” a toda, com as rodas traseiras “quicando” como é característica do veículo em curvas fortes como aquela, um verdadeiro “cotovelo”.

O piloto de F1 bem que tentou ultrapassar a Kombi, mas, enquanto durou o trecho de de três curvas a seguir, depois da "Onça", não conseguiu ou não ousou fazê-lo e ficou vendo o “piloto” brasileiro ganhando distância e gingando com a sua Kombi que, anos depois, sairia de produção.

Será que hoje isso seria possível? 

Certamente não! Não apenas pela incapacidade de motoristas/pilotos que ainda circulam por ai, mas porque hoje os radares não mais  permitiriam estas loucuras de outrora. Ainda bem que o Roberto Carlos acelerava em outros tempos, ou não teríamos a "As Curvas da estrada de Santos".

Nem em outras curvas.




sábado, 2 de fevereiro de 2019

CUIDANDO DA ÁGUA

Poucos sabem, mas o Rio da Prata, aquele que ganha fama quando chega à Argentina, nasce aqui no Brasil, mais exatamente na pequena e bela Santo Antônio do Pinhal, na Serra da Mantiqueira onde, neste terrível verão, tem noites deliciosamente frescas. Além do Prata, a Mantiqueira é responsável pelo abastecimento de água para 5 milhões de pessoas na capital paulista, por intermédio do sistema Cantareira.

Esta é uma das razões para a Fundação Toyota apoiar o Projeto Águas da Mantiqueira vem sendo desenvolvido em Santo Antônio do Pinhal, que tem por objetivo a conservação das 10 bacias hidrográficas do município cuja região abriga uma das maiores reservas de água mineral em todo o mundo. Levantar a biodiversidade da área, visando promover  a conservação por intermédio do planejamento territorial e desenvolvimento socioeconômico de forma sustentável das comunidades.

José Roberto Manna, coordenador do projeto pela Fundespag (Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio), parceira da Fundação Toyota do Brasil nessa empreitada, explica que a participação da população nas discussões é fundamental para o sucesso do projeto: “Nosso objetivo é dar poder à comunidade, para auxiliar a prefeitura com informações importantes para o desenvolvimento do trabalho diário do município”.

Ele destaca que a prefeitura vem “direcionando o planejamento territorial, respeitando as características ecológicas das áreas naturais do município, que é fundamental para a conservação da biodiversidade e a continuidade do abastecimento de milhões de pessoas que dependem das águas da Mantiqueira”.

Até o Rio de Janeiro

Além de outras cidades atendidas pelas águas da Mantiqueira, , como  Sorocaba, São José dos Campos e a região metropolitana do Rio de Janeiro. Isto porque, apesar de não nascer na Mantiqueira, o Rio Paraíba do Sul ao passar pela região aumenta o seu volume d´água e segue vale abaixo, para abastecer a região metropolitana do Rio de Janeiro.

* Com a colaboração de Joel Leite, do ECO Informe.