sábado, 16 de novembro de 2024

bastidores da F1

 


Vou contar aqui uma coisa que aconteceu nos bastidores  GP da F1 em São Paulo, em 1976. Coisa que o Reginaldo Leme, que conhece tudo sobre o assunto, vai saber só agora. Foi quando a fábrica, para aproveitar a F1 no Brasil, lançou seu modelo esportivo (mas nem tanto), o Chevette GP.

Para marcar o lançamento, entregou um modelo para cada piloto que participaria da corrida naquele 25 de janeiro (antigamente era no dia do aniversário da cidade), com o compromisso que que eles chegassem no “José Carlos Pace” a bordo com GP.

Entre eles, claro, o francês Jacques Lafitte, que corria pela Ligier. Ele estreou na F1 em 1974 na Iso Malboro, (tempos em que era permitida a propaganda de cigarros na competição) , na equipe do grande Frank Williams. Chegou em 2º lugar no GP da Alemanha, em Nurburgring.

Em 1976 ele mudou para a Ligier. Deixou a F1 depois de um acidente no GP da Grã-Bretanha, em 1986, correu em outras categorias e hoje é comentarista de F1 em uma TV Francesa.

Mas, por que esse destaque para o francês, nascido em Paris, em 1943 (está completando  81 anos neste mês de novembro) nessa história do Chevette GP. Bem é que todos receberam o carro no hotel onde estavam hospedados (segundo a lenda no São Rafael). Mas poucos  devolveram o carro lá. Foi uma “trabalheira” para o pessoal da GM descobrir o paradeiro do seu modelo  GP.

Mas o carro, entregue ao Jacques, que naquela corrida teve problemas com a transmissão e abandonou a prova, (vencida por Niki Lauda, da Ferrari), desapareceu levando quase um mês para ser encontrado. Com certeza o piloto francês nunca soube da história que foi protagonista no Brasil, em 1976. Ele pilotava um Matra, com motor Ford Cosworth (o mesmo da maioria das equipe que participaram a da prova).

A primeira da Copersucar

Naquela prova, Emerson Fittipaldi em Ingo Hoffmann andaram pela primeira vez na primeira e única equipe brasileira, a Copersucar. Ingo chegou em 11º e Emerson em 13º, tendo entre eles o argentino Carlos Reutmann, da Brabham-Alfa Romeo. Para registro, José Carlos Pace, foi o vencedor da prova no ano anterior, mas não correu em 1976, por problemas com o carro. Mas, naquele ano atuou como dublê de Al Pacino no filme Bobby Deerfield, nas cenas de corrida nos GPs do Brasil, África do Sul e Estados Unidos.

Concorrência

O Chevette GP foi lançado pela GM para concorrer, especialmente com o Ford Corcel GT. Nenhum dos dois tinha verdadeiras características esportivas. Era mais decoração esportiva, com faixa que lhes davam aparência agressiva,(com faróis de milha, rodas de 6 polegadas e volante esportivo, entre outros atrativos)  mas, no chamado “frigir dos ovos”, não apresentavam bom rendimento. Ele fazia 138 km/h de máxima e de 0 km/h a 100 km/h e levava intermináveis 18, 62s. Mas era o que tínhamos para aquele momento.

 

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Peugeot 2008 o melhor nacional






O Peugeot 2008 foi eleito o Melhor Carros do Ano, em todas as categorias, no Top Car TV 2004, que é a única premiação automotiva do Brasil a reunir jornalistas de televisão, internet, rádios/podcasts e jornais e cadernos impressos entregou na noite da última segunda-feira,(4/11) os troféus para os melhores veículos do 23º Prêmio Top Car TV, do 9º Prêmio Top Truck TV e do 7º Prêmio Top Moto TV.

E, se todo ano o Prêmio Top Car TV é uma festa de confraternização da indústria automotiva, reunindo a nata dos jornalistas, empresários e executivos do segmento automotivo de todo o território brasileiro, desta vez o evento ganhou ares inéditos, pois foi a primeira cerimônia de escolha dos melhores veículos do Brasil que contou com o apoio da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) A 24ª Fenatran (Salão Internacional do Transporte Rodoviário de Cargas) está acontecendo desde o dia 4, no São Paulo Expo, em São Paulo (SP).

Neste ano, 49 jurados de 16 estados brasileiros votaram nas três premiações, escolhendo os melhores veículos em 13 categorias do Prêmio Top Car TV, em 5 categorias do Prêmio Top Truck TV e em duas categorias do Prêmio Top Moto TV. “A maior importância do Top Car é sempre servir de guia para o consumidor decidir o melhor na hora de adquirir o seu veículo”, ressaltou Duda Godinho, do Comitê-Gestor do prêmio.

“Nestes 23 anos de premiações, sempre busquei promover uma grande festa de confraternização entre a imprensa especializada e a indústria automotiva. E este ano foi o apoio essencial da Anfavea, coroando com chave de ouro a premiação e ratificando porque ela é uma das mais longevas, sérias, relevantes e abrangentes eleições automotivas do Brasil”, festejou Paulo Brandão, presidente do Top Car TV.

A cerimônia teve início às 18h00, com Paulo Brandão entregando o Prêmio Homenageado do Ano para o executivo Márcio de Lima Leite, Presidente da Anfavea, pelos relevantes serviços prestados à frente da entidade e em prol da indústria automotiva brasileira.

PRÊMIO TOP CAR TV 2024

A premiação dos melhores da indústria iniciou logo às 18h15, com os vencedores do Prêmio Top Car 2024, numa votação bem dividida.

  • Na categoria Melhor Executivo de Montadora, o laureado foi Emanuelle Cappellano, CEO da Stellantis.
  • Na categoria Melhor Ação de ESG, ganhou a Audi, com o projeto Litro de Luz Iluminando Xingu.
  • Na categoria Melhor Carro Elétrico até R$ 200.999, venceu o BYD Dolphin.
  • Na categoria Melhor Carro Elétrico acima de R$ 201.000, ganhou o Renault Megane E-Tech.
  • Na categoria Melhor Carro Híbrido até R$ 250.999, venceu o GWM Haval H6 PHEV19.
  • Na categoria Melhor Carro Híbrido acima de R$ 251.000, ganhou o Caoa Chery Tiggo 8 Pro Hybrid Plug-In.
  • Na categoria Melhor Picape até R$ 190.999, ganhou a Fiat Strada Tributo 125.
  • Na categoria Melhor Picape acima de R$ 191.000, venceu a Ford Ranger Raptor.
  • Na categoria Melhor Utilitário Esportivo até R$ 200.999, ganhou o Peugeot 2008 GT.
  • Na categoria Melhor Utilitário Esportivo acima de R$ 201.000, venceu o Jeep Compass Blackhawk.
  • Na categoria Melhor Carro Nacional (Hatch ou Sedan) até R$ 149.999, ganhou o Honda New City Sedan Touring.
  • Na categoria Melhor Carro Nacional (Hatch ou Sedan) acima de R$ 150.000, venceu o Volkswagen Polo GTS.
  • Na categoria Melhor Carro do Ano (entre todas as categorias), o grande campeão foi o novo Peugeot 2008.

PRÊMIO TOP TRUCK TV 2024

A segunda premiação iniciou às 19h00, elegendo os melhores de 2024 do segmento de veículos pesados, numa votação que também foi bastante dividida.

  • Na categoria Melhor Performance Empresarial (Melhor Fabricante de Caminhões), a laureada foi a marca Volkswagen Caminhões e Ônibus.
  • Na categoria Melhor Veículo de Carga CNH categoria B (PBT até 3.500 kg), ganhou a Ford Transit.
  • Na categoria Melhor Caminhão Urbano: Semileve ou Leve, venceu o Mercedes-Benz Accelo 1017.
  • Na categoria Melhor Caminhão Médio ou Semipesado, o campeão foi o semipesado Scania P 320 6x2.
  • Na categoria Melhor Caminhão Pesado (Rígido ou Cavalo-Mecânico), ganhou o Volvo FH.

PRÊMIO TOP MOTO TV 2024

Encerrando a noite, a terceira premiação iniciou às 19h45, com a escolha das melhores motocicletas de 2024.

  • Na categoria Melhor Moto Street, ganhou a Bajaj Dominar 400.
  • Na categoria Melhor Moto Trail, venceu a BMW R1300 GS.

JURADOS DA PREMIAÇÃO

O júri do Top Car TV 2024 contou com os votos de 37 jornalistas especializados, o júri do Top Truck TV 2024 contou com os votos de 11 jornalistas especializados e o júri do Top Moto TV 2024 contou com os votos de 6 jornalistas também especializados, sendo que alguns profissionais da imprensa automotiva votaram em duas ou três categorias.

Esses foram os 49 jornalistas que fizeram parte dos júris: Aldo Tizzani (São Paulo/SP), Alexandre Campos (Goiânia/GO), Alexandrino Bispo Neto (Curitiba/PR), Alex Ruffo (Santos/SP), André Marinho (Fortaleza/CE), Andrea Ramos (São Paulo/SP), Augusto Correia Lima (Salvador/BA), Carlos Eduardo Silva (Belo Horizonte/MG), Carolina Vilanova (São Paulo/SP), chicolelis (Santos/SP), Christian Gonçalves (Santos/SP), Clayton Sousa Oliveira (Brasília/DF), Décio Costa (São Paulo/SP), Dinno Benzatti (São Paulo/SP), Edson Moura (Maceió/AL), Eduardo Godinho (Salvador/BA), Emílio Camanzi (Nova Lima/MG), Ênio Greco (Belo Horizonte/MG), Fernando Calmon (São Paulo/SP), Freire Neto (Natal/RN), Geison Guedes (Brasília/DF), George Guimarães (São Paulo/SP), Geraldo ‘Tite’ Simões (São Paulo/SP), Gerson Borrini (São Paulo/SP), Giovanna Riato (São Paulo/SP), Gustavo Dias (Porto Alegre/RS), João Anacleto (São Paulo/SP), João Fusquine (Brasília/DF), João Geraldo (São Bernardo do Campo/SP), João Mendes Filho (Rio de Janeiro/RJ), Joel Silveira Leite (São Paulo/SP), Leandro Alves (São Paulo/SP), Léo Doca (São Caetano do Sul/SP), Luiz Humberto Monteiro Pereira (Rio de Janeiro/RJ), Marcos Camargo Jr. (São Paulo/SP), Marcos Villela (São Paulo/SP), Marlos Ney Vidal (Belo Horizonte/MG), Norton Ferreira (Goiânia/GO), Paula Vasarini Lopes (São Paulo/SP), Paulo Brandão (Salvador/BA), Paulo Cruz (Campo Grande/MS), Pedro Kutney (São Paulo/SP), Raimundo Couto (Belo Horizonte/MG), Ricardo Vasconcelos (Salvador/BA), Sérgio Quintanilha (São Paulo/SP), Tarcísio Dias (Recife/PE), Victor Pinto (Belém/PA), Vitor Matsubara (São Paulo/SP) e Zéneto Furtado (Fortaleza/CE).

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Freio motor? Nem todo motorista sabe o que é





Sem o resultado final das investigações em andamento, não é possível estabelecer as razões do acidente que matou 9 pessoas, no domingo (20/10), mas não dá para entender como um caminhão, carregado com 30 toneladas seguiu viagem depois de ter passado por dois “consertos”, em uma mesma oficina, pois o motorista não conseguia engatar as marchas com a precisão necessária. O delegado que ouviu o depoimento do motorista conta que  “Ele tentava engatar as marchas e algumas determinadas não se encaixaram. A partir daí ocorreu a perda do controle de veículos, excesso de velocidade e, na sequência, o impacto na traseira da van dos jovens remadores.

Então, na terceira “quebra”, ou do problema com o câmbio,  o caminhão estava na descida da serra da BR 376, em Guaratuba, litoral paranaense e, segundo o motorista, não consegui engatar as marchas. E a carreta ganhou velocidade e  “atropelou” a van que seguia à sua frente, transportando nove  jovens gaúchos, de uma equipe de remo. Oito deles, mais o motorista da van, morreram no acidente.

Mas por que tudo aconteceu? A carreta teve um terceiro defeito, ou o

motorista nunca ouviu falar em freio motor? Para quem não sabe, o

freio motor impede que o veículo, seja carro, caminhão, ônibus,

desembale serra abaixo. É tão importante, que muitas fábricas hoje já

implantaram sistemas automáticos em seus caminhões.

O freio motor é uma alternativa segura para reduzir a velocidade do

caminhão, pois não aumenta o consumo de combustível e ajuda a

preservar os componentes do veículo. Ele é acionado quando o motorista reduz a marcha em grandes descidas, fazendo com que o motor diminua a rotação e auxilie na frenagem. 

A DAF, por exemplo, coloca em seus caminhões o freio motor MX, com três estágios de controle e potência de 490 cv e 2.100 RPM.  A Volvo tem um  sistema com duas opções de potência, 210 cv ou 300 cv, enquanto o caminhão Iveco Hi-Wai tem sistema de freio motor New CB, que combina o Iveco Turbo Brake e o freio motor VGT. Também a Mercedes-Benz e Volkswagen Caminhões  podem ter diferentes tipos de freio motor, como freio de cabeçote , freio do tipo borboleta  e o engine break.

O freio de cabeçote descomprime os cilindros por intermédio de válvulas de escape. O freio tipo borboleta atua no sistema de exaustão de gases. E o Combine Engine break, junta os dois anteriores. 

O freio motor é uma sistema extra, que ajuda o motorista a ter mais

controle sobre a velocidade do caminhão, funcionando a partir do uso do próprio motor, visando contribuir com o sistema de frenagem. Para tanto, é importante que seja mantida a rotação ideal, demarcada em amarelo no conta-giros do veículo.

O freio motor é uma boa alternativa para, não apenas reduzir a

velocidade do caminhão, já que ele não aumenta o consumo de

combustível e colabora na preservação de outros componentes, como o sistema de freio, diminuindo a rotação e auxiliando na frenagem.

O que pensa o especialista

Luis Cláudio Marão, especialista na área de logística, fundador da ILOGG, não comenta o acidente, pois ainda não existem informações completas, mas diz que muitos motoristas de caminhão e até mesmo de veículos leves, como automóveis e picapes, “desconhecem o que significa freio motor e como usá-lo”. Ele alerta também para a baixa profissionalização nos tempos atuais, em que os veículos estão mais potentes e velozes, resultando em acidentes por imperícia ou imprudência.

Luis fala que hoje em dia, não existe mais aquele profissional que

“herdou” do pai o desejo de dirigir um caminhão, como existia até pouco tempo. “Os jovens de hoje - conclui ele - não buscam mais a profissão de caminhoneiro, estando mais voltados para outros tipos de trabalho, ligados à tecnologia. 

Não é privilégio dos caminhoneiros

Por favor, entre no meu blog e veja o que escrevi anos

passados”: 

https://www.blogger.com/blog/post/edit/56690691625387825

17/702307119489282166

Se você leu este meu blog, reflita sobre o acontecimento e sobre outros que encheram de sangue nossas estradas por falta de fiscalização ou de má conduta por parte dos motoristas, quer sejam de caminhões, ônibus, automóveis, picapes ou motocicletas.

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

NÃO SE USA O FREIO MOTOR


 Quando desço a Imigrantes voltando para casa, sempre me chamou a atenção o número de motoristas que desconhecem a existência do freio-motor. Muitos só conhecem o “freio do pé” e não desistem dele de modo algum na descida da Serra do Mar pelo trecho da estrada que está para completar 20 anos de idade.

Tem gente que freia a cada segundo, sempre de olho nos absurdos 80 km/h de máxima permitida ali. Mas, certo dia, peguei pela frente o motorista de um Volvo (modelo nem hibrido nem elétrico) em que as luzes de freio ficaram acesas durante os 20 quilômetros do trecho de serra, sendo 8,23 km de túneis e 4,27 km de nove viadutos. Tudo isso para manter os 80 km/h.

foto de abertura é apenas ilustrativa para mostrar as luzes de freio numa situação de uso. Note que o carro em primeiro plano à esquerda está sem usar freio, porém com todas as luzes desligadas, ignorando a regra de trânsito que obriga usar farol baixo nos túneis (CTB  Art. 40 Inciso I).

Eu fiquei ali, atrás dele, esperando as luzes se apagarem. Ele passou pelo túnel 1, com seus 3,146 km de extensão (o maior rodoviário do Brasil); seguiu com seu pé no pedal do freio, passando pelo 2 (3,005 km) e também pelo 1 o menor deles, com 2,080 km de extensão. Depois que ele entrou na pista para o Litoral Norte, não vi mais suas luzes de freio acesas. Eu segui para Santos.

Nesta foto, feita pela Ecovias, nota-se que os carros estão usando freio-motor, uma vez que as luzes de freio estão apagadas

Quem dirigia aquele Volvo nem imagina o risco que correu mantendo o pé no feio do carro por toda a descida de serra. Isso causa superaquecimento dos discos e pastilhas, pelo atrito constante, prejudicando o sistema de freio ao aquecer demais as pinças e levar o fluido hidráulico em seu interior a ferver — embora os fluidos mais modernos tenham um ponto de ebulição mais alto que os antigos e reduz, mas não impede, a possibilidade de o fenômeno ocorrer. Quando isso acontece o freio simplesmente não funciona mais.

Mas mesmo que não chegue a esse ponto, a alta temperatura devido ao frear constante causa o fading (perda de ação por superaquecimento) e pode deixar o veículo sem freio enquanto seus componentes não voltarem à temperatura normal.

Isso não acontece com o veículo híbrido ou elétrico, pois quando tiramos o pé do acelerador o sistema entra no modo de regeneração de energia elétrica para recarregar a bateria e faz acender, automaticamente, as luzes de freio do veículo (que não era o caso do Volvo em questão).

A descida da Imigrantes vai completar 20 anos logo mais, no dia 17 de dezembro. Ela foi construída por 45 mil trabalhadores em quatro anos e três meses, sendo entregue com cinco meses de antecedência. Usou o mesmo sistema da pista ascendente para abertura de túneis, o NATM (New Austrian Tunneling Method).  O projeto, de 1986, foi alterado e assim a devastação da Mata Atlântica caiu, de 1.600 hectares, para apenas 40.

Disque 0800 0197878

Se você quiser informações sobre o Sistema Anchieta-Imigrantes, ligue para este número. É o telefone da Ecovias, concessionária dessas rodovias. Por intermédio dele receberá informações sobre as condições das duas estradas. E preste atenção na voz feminina que passa essas informações. A pronuncia dela da palavra QUILÔMETRO é hilária. Neste número falará também com a Ouvidoria. Ligue lá!

Segunda edição

Esse intertítulo, colocado, 9 horas depois da publicação desta coluna, tem um motivo especial. Usei o recurso do tempo em que jornais tinham grande circulação e era comum haver uma segunda edição quando surgia uma notícia relevante. E essa notícia relevante ocorreu depois que a coluna foi publicada.

Se você ligar agora para a Ecovias e ouvir a voz que informa as condições do sistema Anchieta-Imigrantes, vai achar que eu estou equivocado ou não ouvi direito a informação e confundi quilômetro com quilometro, como há anos se ouve na ligação. Mas creia, estou certo e orgulhoso de saber que, após ler aqui no AE a falha de locução, a Ecovias corrigiu o erro.

Agora só falta acertar a questão dos túneis que desapareceram na pista ascendente.

CL

A coluna “Histórias & Estórias” é de exclusiva reponsabilidade do seu autor.



quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Visita ao meu querido professor

 Hoje (8/10) tive uma tarde maravilhosa! Fui visitar meu querido professor, que dava aulas sensacionais de Direito Usual, na Faculdade de Comunicação, do curso de Jornalismo. Aos 87 anos, o professor GILDO DOS SANTOS me ouviu confessar que, por causa das suas aulas, quase desisti do Jornalismo para ser advogado (ainda bem que não segui este meu pensamento, porque seria duro enfrentar o que está acontecendo com a nossa Justiça nos dias atuais). Sempre gentil, o professor Gildo falou dos seus tempos de mestre na Católica (Direito) , nos colégios Tarqüinio Silva e Canadá, onde lecionava Português; de Juiz e Desembargador. locais onde era querido por todos. Citou com emoção sua esposa, dona Marinita, que já nos deixou, e com quem teve quatro filhos. E disse da alegria que lhes dão seus sete netos. Foi realmente uma tarde inesquecível, que pretendo repetir, o mais breve possível. Pena que esqueci de fazer uma self de nós dois, lado a lado. Mas ainda bem que existem fotos dele na Internet, para que você possa conhecer esta pessoa especial que é o professor Gildo do Santos.


terça-feira, 8 de outubro de 2024

DE TAXI PELO MUNDO


 

Ao receber a foto de amigos que visitaram Capri (no Golfo de Nápoles, no mar Tireno, com 30 mil habitantes, em uma área de 10,4 mkm) mostrando um táxi local, fiquei inspirado para falar de outros taxis, igualmente curiosos, ou não, espalhados por esse nosso planeta Terra.

Taxi em Capri, foto de Jader Andrade

Em Capri eles são montados sobre ao mais variados modelos e marcas, desde o menor dos carros, como um Fiat 600, até algumas “banheiras” que a indústria automobilística produziu. Todos com sua parte superior cortadas, substituídas por toldos que têm suas cores e formato determinado pelo gosto, ou mau gosto, do seu proprietário. Mas são todos “divertidos”.

- “E muito caros”, acrescenta minha amiga, informando que a mais barata, que dura 11 minutos, custa entre 10 e 13 Euro (cerca de R$ 50,00).

 

No contraponto dessa irreverência de Capri, a “seriedade” do táxi londrino, todos com o mesmo design e em sua maioria na cor preta, dai serem chamados de “black cabs”. Seu uso é muito caro também: uma corrida de 20 minutos, chega a custar 15 Libras Esterlinas (cerca de R$ 110,00). Nada muito diferente do preço cobrado por aqui, pelos aplicativos, em dias de chuva, ou na hora do rush. Certo? Diz a lenda que eles têm o teto elevado para que os “lords” ingleses pudessem entrar sem ter que  tirar sua elegantes cartolas.

O novo táxi londrino. Tão imponente  quanto o antigo

O táxi em Roma não tem lá seus atrativos, mas a cidade não poderia ficar fora de um roteiro. Certo? O preço de uma corrida do aeroporto internacional de Fiumicino até o centro custa 48 Euro, perto de R$ 250,00. Nas demais corridas pela cidade, vale o que mostra o taxímetro.





O “yellow cab”



A cor amarela no Yellow cab, em Nova York, talvez o táxi mais conhecido em todo o mundo, vem desde 1915, quando John Hertz inspirou-se em um estudo da universidade de Chicago, mostrando que a cor amarela combinada com o vermelho era mais visível de longe. Uma corrida padrão por lá custa US$ 10 (cerca de R$ 50,00). Informação extra: o primeiro táxi com motor a combustão circulou pela chamada “capital do mundo” em 1907.

No Rio de Janeiro, o mesmo argumento foi usado para determinar a cor do táxi carioca, onde o km rodado custa em torno de R$ 4,00.  E pode custar bem mais se você pegar um tiroteio na Linha Vermelha, e ficar parado por um longo tempo. (Uma observação; na minha infância morei no amado Rio de Janeiro, onde a malandragem, hoje substituída pela bandidagem,  andava por lá, dando golpes e pungando carteiras, na Praça XV, no Largo da Carioca, ou na Cantareira, a barca que fazia a travessia Rio-Niterói e que tem até música).

Em Pequim, capital chinesa, aparece o amarelo, como no Rio e Nova Iorque. Uma larga faixa nessa cor aparece em todos os modelos que circulam pela cidade e também por Shangai. E, pelas informações na Internet, os preços são bem convidativos.

Nos primeiros, custando entre US$ 2,80 e US$ 4,20 em corridas pelo Centro da cidade. Em Pequim com 21,8 milhões de habitantes,  e o amarelo dominando nos “carros de aluguel”, como eram chamados os táxi antigamente. Lá, os primeiros 3 km custam o equivalente a US$ 10,48, com custo adicional, por quilômetros rodado, de US$ 1,80. E justificativa para uso do amarelo: melhor visualização.

             

Em Roma, o táxi não tem cor definida, mas foi incluída aqui, apenas por ser Roma. A corrida entre o aeroporto de Fiumicino, o principal da Itália,  custa, fixo, o equivalente a US$ 48. E não se assuste com o trânsito terrível da cidade e com o motorista, que à todo momento, larga do volante para falar com as mãos, além do mais, olhar para você, sentado no banco traseiro.

Paris também foi incluída na lista, por ser a “Cidade Luz” e abrigar os mais famosos museus do mundo. Lá, a bandeirada custa US$ 2,60, e o quilômetro rodado, de dia, US$ 0,96 e US$ 1,17 à noite. E Buenos Aires, na lista por que é a capital dos “Hermanos” e onde Carlos Gardel cantou belos tangos compostos pelo brasileiro Alfredo Le Pera, nascido no bairro do Bexiga, (, localizado no Centro de São Paulo e tornado famoso por Adoniran Barbosa). Lá a bandeirada custa $ 1.28 pesos ( o dólar blue está a $ 1.200 pesos) e $ 128 pesos a cada 200 metros, com 20% de acréscime4 no período noturno.  Lisboa, só  incluí por uma questão sanguínea, em homenagem à minha amada vó Eva, mas não há o que falar, a não ser que para saber preços das corridas, devemos recorrer  a simulação da Coptaxis.

Nova Deli foi incluída por oferecer  o mais curioso tipo de taxi, o “Tukituki”, que foi inventado no Japão, mas predomina na capital da Índia, com seus quase 33 milhões de habitantes. Ele tem apenas três rodas, já que é montado sobre motocicleta, mas pode levar até sete pessoas, de acordo com sua configuração.



 

Finalmente, Tóquio, que abriga, além do táxi tradicional,  um dos mais antigos tipo de transporte de passageiro, o Riquixá, com duas rodas e, como diz seu nome em japonês, “jinrikisha” (veículo a tração humana). Ele surgiu no Japão em 1868 e hoje tem a versão ciclo-riquixá, montado sobre uma bicicleta.

Agora, em Berlim está o “taxi” mais divertido para quem gosta da uma boa cerveja alemã: o Beer Bike”, onde um determinado número de “passageiros”  (varia entre 6 e 12 pessoas) pedala  uma bicicleta em forma de mesa ou de um  balcão de bar, que tem um “ciclista” que não bebe e cuida que o “bar” não erre a mão, ao circular pelos pontos turísticos, do lado Ocidental de Berlim.

 



segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Como era bom o trem do presidente



                                                Este é o bar

Hoje, o presidente, ministros e afins viajam de jatos pelos céus do Brasil e de outros países. Mas já houve tempo em que essas figuras da República viajavam de trem, que tinham o mesmo luxo que os aviões oferecidos hoje a elas. Em Santos, um desses trens, importados da Inglaterra no  século passado, em breve estará disponível para visitação pública.

O luxo é visível, com aquelas deliciosas poltronas de vime, igual aquelas que apareciam nos filmes rodados na Índia, nas casas e escritórios dos colonizadores ingleses, que lá estiveram entre 1750 e 1850. São três os vagões da mordomia presidencial e convidados. O primeiro, presidencial, com as confortáveis poltronas de vime, com macias almofadas. Ventiladores com pás de cobre (ai se os bandidos sabem disso!)

O segundo vagão abrigava o bar e o restaurante. Tudo em madeira de Lei ou seja, de primeira linha. Ali eram servidas refeições ligeiras, como sanduíches e saladas e, claro drinks dos mais variados. Uma geladeira à antiga, com gelo, ajudava a conservar os ingredientes.

O quarto vagão era o administrativo, onde eram resolvidas as questões da República e uma sala com confortáveis poltronas em couro (legítimo, claro!), enquanto uma “Maria Fumaça” fazia o trem presidencial correr sobre os trilhos.


                                           Aqui, vagão para descansar




Como chegou a Santos

Os vagões presidenciais chegaram à Santos em 2014, segundo Paulo Gonzalez Monteiro que, além de cuidar do trem presidencial é diretor do Museu Pelé (conhece? Ainda não? Pois vá, vale a visita!).

Paulo, um dos fundadores da Memotranspo – Associação Brasileira de Preservação da Memória dos Transportes, conta que teve conhecimento de que os vagões presidenciais estavam parados em uma área da extinta Rede Ferroviária Federal, que existiu entre  1957 e 1999). Havia outras cidades interessadas no trem presidencial, que acabou vindo para Santos.

Esses vagões fazem parte da história da ferrovia no Brasil, que já teve 38 mil km e hoje são apenas 10 mil, abrigando a Estrada de Ferro Vitória-Belo Horizonte e a Ferrovia Carajás, com trens que fazem o trecho entre São Luis (MA) e Paraupebas (PA), para o transporte de carga e passageiros. Na área exclusiva de carga, a empresa RUMO, destaca-se como a primeira no País, com 14 mil km de trilhos entre o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins.  Nos Estados Unidos e na Europa,  são mais  250 mil km, na China 67 mil km, Argentina, 34 mil km e o México 23.400 km. Esses números, do exterior, incluem transporte de carga e de passageiros.

 

                                            Aqui o vagão restaurante

                                            Luxo e conforto é o que não faltava no trem



quarta-feira, 25 de setembro de 2024

DIA DO RÁDIO. O SOM DA MINHA VIDA!


                                              






Como a minha amada mãe, dona Olinda, sempre ouviu rádio, eu posso afirmar que ouço rádio por toda a minha vida, ou seja, desde que nasci. Mas eu não só ouço Rádio, amo o Rádio. Minha memórias sempre me remetem ao seu som. Fui e sou fanático por ouvir rádio, que baixei um aplicativo (RadiosNet) por intermédio dele posso ouvir rádios do mundo inteiro, até mesmo em idiomas que não entendo bulhufas, como, por exemplo, a rádio Isanganiro 89.7 FM,  de Burundi, que tem 13 milhões de habitantes que falam Kirundi, a língua natal. Quanto à capital, existem duas informações: Bujumbura e Gitega. Confesso que é impossível identificar uma palavra sequer, mas é Rádio!
Minhas lembranças do Rádio começam em Ponte Nova (MG), onde nasceu o meu amado irmão, Luis Antonio, o "Lubi", em 1950. Lá, ao lado de minha mãe, ouvia a rádio  Nacional do Rio de Janeiro, com suas novelas, jornalismo e "Gerônimo, o Herói do Sertão", além do Edifício Balança Mas não Cai, com seu humor falando muito da política nacional (coisa permitida na época). E lá também ouvia Carlos Galhardo, Francisco Alves (o Rei da Voz), as irmãs Batista, Emilinha Borba e sua rival Marlene, João Dias (o Príncipe da Voz), Nelson Gonçalves e  muitos outros. Era uma delícia!!!
Já morando no Rio, fui algumas vezes ao programa Cesar de Alencar, no auditório da minha querida Radio Nacional, na praça Mauá (já saiu de lá) onde ouvi todos aqueles cantores que só o fazia pela ondas curtas (com o som cheio de chiado) da Nacional. Foi maravilhoso!
Tão fanático por rádio fui, que ouvia a Rádio Relógio Federal, que tinha como "fundo musical", o tic tac de um relógio, com  a Iris Letieri anunciando a hora a cada minuto e também transmitindo notícias e curiosidades E, no saguão da rádio, vez por outra, algumas atrações como a do  Silk, faquir brasileiro, que ficou 115 duas sem comer, deitado em uma cama de prego e cercado por vinte cobras.
Voltando para Santos, escutava a Rádio Atlântica, onde Ernane Franco, o melhor locutor que já ouvi na vida, que transmitia os jogos dos melhores tempos do Peixe. No seu programa de Esporte ao meio-dia,
criou um belo slogan, ao se despedir: E a você, ouvinte amigo, que nos ouviu no rádio do seu carro, obrigado pela carona".
Foi no rádio, na Jovem Pan, que ouvi as primeira notícias sobre o ataque terrorista à Torres Gêmeas, em NY, e, antes, incêndios dos edifícios Andraus e Joelma, em São Paulo (em um deles perdi um  amigo e colega de faculdade, o Rui).
Mas deixando as desgraças para trás, lembro que no início dos anos 80, quando na sucursal de O Globo (SP), pegava o carro, e ligava o rádio, mesmo que só ouvisse a terrível Voz do Brasil, que segue ruim, até hoje, infelizmente com seus penduricalhos do senado, legislativo ....... Um dia, resolvi colocar o rádio na ondas curtas e me deparei com uma rádio "falando" Português. Era a Rádio Nacional de Praga, na antiga Tchecoslováquia (hoje dividida em República Tcheca e República da Eslováquia), com um programa de língua Portuguesa para o Brasil. O locutor falava algumas coisa sobre no País e atendia pedido musicais. Em um dia, leu o pedido (as pessoas mandavam cartas para lá, com seu pedido musicais. Não existia e-mail ou cousas do tipo): queria ouvir chico buarque cantando a música "X". O locutor se desculpou por não ter a  música pedida, e tocou outra música do autor. Havia dias em que não conseguia captar a rádio e ouvia o que dava, evitando a horrível Vos do Brasil.
Mas nem sempre me dei bem com a rádio. Recentemente, o pessoal da Rádio Bandeirantes FM me decepcionou. Ouvindo o Datena, o ca cadeirada, maltratando e ofendendo seus colegas no programa (editor, produtor, todos) que tinha às 10 da manhã na rádio, liguei para o 999048756, condenando o apresentador, que é um grosso. Daquele dia em diante meu número foi bloqueado. Nem mesmo uma carta enviada, registrada, e entregue ao dono da rádio Jhonny Saad, liberou meu telefone. Datena manda mais que ele lá!
Bloqueei a Rádio Bandeirantes. Triste, mas fiz isso!
Mas não deixei de ouvir o Rádio, continuo ouvindo outras, entre  outras, a Cultura, onde meu amigo maestro João Maurício Galindo (companheiro do Kabura, o melhor restaurante japonês de Sampa), tem o programa "Encontro com o maestro", no 103.3 FM, domingos às 10 horas e segundas às 23 horas. 
E viva o Rádio, neste seu dia 25 de setembro.


sexta-feira, 20 de setembro de 2024

CONFISSÕES DE UM FUSCÃO


 




"Nunca me esqueço. Saí da concessionária, em Santos, no dia 30 de novembro de 1971, às 16 horas. Levava comigo, no porta luvas, a nota fiscal de venda, número 1012. Estava “zerinho”, brilhando, na então atraente Verde Guarujá, Meu motor, 1.500, roncava macio e gostoso. Por dentro oferecia conforto e por fora chamava a atenção de muita gente, Não esqueço a minha primeira placa: WH 1640, como era antigamente, muito antes dessa atual, que tirou a personalidade das nossas cidades.

O meu dono, seu Manuca (Manoel Pina dos Santos), deu Cr$ 4 mil (quatro mil cruzeiros, o dinheiro daqueles tempos) de entrada, mais 30 parcelas de Cr$ 432,65, para a União Financeira (Contrato 008/021/0 com o carnê preservado até hoje, como a cópia da NF.

No banco do passageiro, ao lado do seu Manuca, um jovem de 20 anos, louquinho para me acelerar e mostrar meu ronco pelas ruas da cidade, se exibir para os amigos e paquerar as moças nos bailes, que eram embalados pelo som da Jovem Guarda. Mas eu senti que o meu dono nunca deixaria isso acontecer (ainda bem, sabem como são os jovens, né?). Ele era um “casca dura” e, mesmo com poucos minutos de uso, já tinha muito ciúme de mim, seu bem maior, conseguido com muito suor, trabalhando na antiga COSIPA (Companhia Siderúrgica Paulista, inaugura pelo menos três vezes, uma delas pelo então presidente da França da época, Charles de Gaulle).

O jovem não entendia aquele ciúme e a intolerância o pai, que não gostava nem de sair na chuva com o Fuscão. E, por isso, quebrou o compromisso de ajudar o pai a pagar minhas prestações. Ficaram sem se falar algum tempo e eu muito triste por ser o pivô daquele desentendimento. Tempos depois, conseguindo um emprego, o filho do seu Manduca comprou outro Fusca. Não como eu, mas um simples 1.300, ano 1969, que ele enfeitou, colocando talas largas, som de primeira, luz negra, rebaixou e saia por Santos e São Vicente paquerando as moças.

Eu só saia nos finais de semana. Fora isso, ficava dentro da garagem, sob uma lona e só ligavam o meu motor em ocasiões especiais, como aquela viagem, em 1973, quando levei seu Manuca e sua esposa até Estância, uma pequena cidade no estado de Sergipe, a terra deles. Foi uma viagem cansativa, mas  eu me comportei muito bem nos 30 dias das férias.

Naquele mesmo ano, o filho do casal se casou e seu Manuca me emprestou para ele, que foi passar a lua de mel em Campos do Jordão. Não senti frio nenhum lá no alto da Mantiqueira.

                                                   Edélzio, o primeiro herdeiro do Fuscão

Só o seu Manuca

Depois disso eu passei a ser uso exclusivo do seu Manuca. Vivíamos viajando por todo o Litoral de São Paulo. Também participei de casamentos, batizados e, até para velórios e enterros, levei meu dono. Qualquer lugar que a família fosse, lá estava eu, oferecendo meus “préstimos”, sempre com meu belo ronco de Fuscão (quem lembra dele?) e conforto.

O tempo foi passando e eu superado por carros modernos lançados no mercado. Mas vi como o seu Manuca me amava, tinha confiança em mim e nunca me trocou por nenhum desses modelos com air bag, freio a disco, motores eletrônicos e outras modernidades. Ele me mantinha sempre em ordem, com revisões, pneus novos, suspensão cuidada. E eu sempre retribuindo sua confiança. Sei lá onde eu iria parar, caso ele resolvesse se livrar de mim. Depois de tantos anos de amizade, jamais aceitaria ser descartado.

Bem que o filho sugeriu que o pai me trocasse por um carro mais novo. Ele sempre rejeitou a ideia. O tempo passou e, em 2006, aos 82 anos, seu Manduca se foi, lamentando que nos últimos tempos já não conseguia mais sair comigo, para os nossos passeios pela Baixada Santista.

Naquela hora o futuro me preocupava. Eu não sabia o que poderia acontecer comigo. Fiquei lá, parado, e meio abandonado na garagem do seu Manuca, enquanto a família aguardava a conclusão do inventário para decidir meu destino. Eu sabia que tinha um monte de gente interessada em mim. Bonitão, bem cuidado, era um sucesso. Tinha um vizinho que não parava de atormentar a viúva. Coitada, não sabia mais o que falar para ele, que mencionava uma conversa com seu Manuca: “ele prometeu que me venderia o Fuscão”.

Ninguém ouvira falar naquilo e, como morto não fala, e nada por escrito apareceu, o vizinho foi convidado a desaparecer da porta da casa da viúva. Por enquanto eu não seria vendido. Quando tudo parecia se normalizar, a esposa do seu Manuca faleceu, em 2007. Entrei em parafuso, minha vez chegara. E pensava onde iria parar? Meu novo dono ia cuidar bem de mim? Vou ser usado para passeio ou Táxi Mirim (lembram-se dele?)? Vou ser desmontado e vendido aos pedaços? Apesar de ser Fuscão, tive vontade de chorar ao pensar nessas coisas.

Fiquei três meses ao abandono, Mas, um dia, uma luz no fim do túnel. O filho seu Manduca passou por uma banca de jornal onde viu a revista Fusca & Cia, com reportagem falando de mim e de todo a família Volkswagen. Havia outras revistas que ele devorava dia e noite. Ele me descobrira e eu sentia que meu destino não era ter uma placa de Vende-se/Tratar com o dono no parabrisas.

Conversando com a sua irmã sobre o que fazer com o carro, ela votou pela venda. Mas o Bruno, neto do seu Manuca esbravejou: vender o Fuscão do vô, nunca!!! De jeito nenhum. Ele faz parte da família e aqui vai ficar.

Senti-me o Fuscão mais feliz do mundo. O filhão comprou a parte da irmã, na partilha do inventário, e me colocou em uma oficina onde passei nove meses, por uma profunda restauração. Senti que tinha voltado a 1971, estava novinho em folha.

 

Minha fotos, aquelas do “antes e depois”, provavam que eu voltara aos bons tempos, apesar de alguns milhares de quilômetros rodados, com motor refeito, câmbio revisado. Tudo graças ao seu Manuca, que me amava e sempre cuidou bem de mim.

Pois eu fazia parte da sua vida, da sua família, Por isso colocaram uma placa na tampa do meu porta luvas que me orgulha muito. Ela diz: Homenagem a um herói que formou uma família, amou a todos e, em especial a esse Fusca (Eu).  Manuca”,

 

Uma tristeza

Bruno, o neto do seu Manuca, herdeiro natural do Fuscão e defensor da sua permanência na família, a deixou em 2015 e nem chegou a aproveitar muito o Fuscão.

Edelzio Costa Pina é aquele filho que admira e cobiçava o carro, desde a saída da concessionária. Ele é  que mantém o Fuscão do seu Manuca “nos trincs”, que ao ponto de evita sair com ele nos dias de chuva, fez algumas transformações no carro. Colocou alguns acessórios, rodas, escapamento, estofamento e outros. Eu, chicolelis, não consegui saber do Fuscão se ele gostou das modificações, mas é nítido que ele está feliz por saber que mais duas gerações na família, não vêm a hora de sentar na frente do seu volante

 

“Hoje, olhando diariamente o Fuscão, na nossa garagem, sinto uma emoção muito forte – diz Edelzio que idealizou este texto. A lembrança do meu pai me dá um nó na garganta. Ele, que migrou do Nordeste, foi um exemplo para nossa família. Além de seus filhos e netos, tem três bisnetos, o Guilherme, o Gabriel e o Gustavo, que prometem curtir o Fuscão Manuca (o carro agora tem esse nome), como nosso querido velho o fez por 35 anos”.

Ao ouvir isso, juro que ouvi o Fusca Manuca dar um toque de alegria na sua buzina. chicolelis