quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

BIGODINHO ENGANADOR

O meu querido amigo Marco Zamponi, o ZAMPA, que para tristeza de todos os que o conheceram já nos deixou, era uma das maiores figuras deste mundo. Jornalista inteligente, astuto, capaz de fazer rir a todos por muito e muito tempo com suas histórias ("o tema é verdade - garantia ele - mas às vezes eu crio em torno da história). 

Carioca, sotaque carregado e aventureiro, foi morar na Europa ainda jovem, já com  bom conhecimento do automobilismo mundial. Como todo jovem, tinha suas dificuldades de sobrevivência. Vida dura, dependendo de favores dos amigos e pilotos que seguiam para o velho continente tentar a sorte atrás de um volante. 

Morava em Londres e tinha um Mini. Mas aqui é preciso abrir um parenteses para mencionar que o ZAMPA passava - e bem - dos 100 kg de peso. Vivia acompanhando provas pela Europa, especialmente F1. E não poderia deixar de ir até Mônaco para acompanhar a corrida mais charmosa do Mundo. Conseguiu uma carona de avião e foi para o principado. 

Lá, com  o bolso e estômago vazios, o querido ZAMPA se deparou com um jornalista carioca como ele e mencionou suas dificuldades. O cara, todo posudo (hic!) disse: olha ZAMPA, posso te ajudar. Você carrega esta pasta para mim que te pago 100 dólares. Contando a história para os amigos ele dizia: "na hora eu pensei se mandava o cara à ou para a PQP. Mas aí pensei que com aquela grana eu poderia comer uma semana em Londres. E aceitei".

Carregando pasta pra lá e pra cá, ele acompanhou o jornalista (sic!!!!) até que este apontou para um homem mais adiante, cercado de belas mulheres e disse: olha lá o Graham Hill (participou da F1 entre 1958 e 1975, sendo campeão em 62 e 68), vamos entrevistá-lo. 

ZAMPA ponderou que não deveria ir até lá, mas diante das ameaças de lhe ter tomada a pasta e, claro os 100 dólares, cedeu. O cara chegou lá e falou: Graham Hill, sou jornalista do Brasil etc, etc, etc ... e começou a perguntar coisas para o "piloto". As moças riam e o entrevistado também. E o ZAMPA com cara de zombeteiro. 

Depois de muitas perguntas, o ZAMPA afinal se manifestou: cara, este aí... foi interrompido bruscamente pelo jornalista que ameaçou novamente tomar-lhe a pasta e cancelar o "contrato". 

Mas, desta vez, o "carregador" não aguentou e disse: cara, este aí não é o Graham Hil, é o David Niven, conterrâneo do piloto inglês e também campeão na sua categoria, tendo ganho o Oscar de melhor ator em 1958, por sua atuação, por apenas 15 minutos, no filme "Separate Tables", "Vidas Separadas" aqui no Brasil. 

Ele deveria ter ganho também o Oscar de melhor interpretação de um piloto de F1, porque respondeu às perguntas do equivocado jornalista com maestria. Como se fosse o verdadeiro Graham Hill

A razão do equívoco: bem, primeiro pela arrogância. Se tivesse ouvido o ZAMPA, não teria "pago aquele mico", depois, talvez porque ambos tinham Graham no nome (o ator era James David Graham Niven). E o principal era o característico bigodinho inglês, fino e comprido, que emoldurava a boca de ambos.

Nunca perguntei, nem o ZAMPA falou, se recebeu ou não os 100 dólares. Mas o que vale mesmo é a história que ele contou. ?

Obs: É preciso esclarecer, aos que não sabem, é que David Niven era apaixonado pela F1 e assistia a todos os GPs que podia.

Quem é este, David ou Graham?

E este, é o piloto ou o ator?

À esquerda, com capacete de aviador, Graham Hill. À direita, com capacete de piloto, David Niven. Será isso mesmo? Confira!

Hill pilotando e o incrível e querido Zampa.



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