sexta-feira, 8 de maio de 2020

DONA OLINDA



Minha amada mãe teria 98 anos neste próximo Dia das Mães e fico imaginando o que dona Olinda faria de almoço festivo, para mim e meu irmão, o Lubi, que teria 70. Não consigo imaginar, porque ela não era lá muito de forno e fogão, como era sua mãe, minha amada vó Eva. Sei que  dona Olinda iria caprichar, talvez num macarrão com frango, ou numa carne assada com batatas cozidas.

Mas, de uma coisa tenho certeza, faria as melhores sobremesas do mundo: Torta de Limão e Maria Mole, imbatíveis até hoje. Eram os doces o seu forte.

Lembrar dos dotes culinários dela me trouxeram à memória a música “Mamãe” nas vozes da "Rainha da Música", Angela Maria, e do "Príncipe da Voz", João Dias. Em um trecho a letra diz:

“Mamãe, mamãe, mamãe
Eu te lembro o chinelo na mão
O avental todo sujo de ovo
Se eu pudesse eu queria outra vez, mamãe
Começar tudo, tudo de novo”

Não me lembro dela com o avental todo sujo de ovo, muito menos com o chinelo na mão, muito embora eu e o Luiz Antonio (o apelido Lubi veio quando adulto) fizéssemos coisas passíveis de umas boas chineladas. Ela era doce e nos dava broncas com um suave olhar, nos acalmando e arrependidos da travessura.

“Ela é a dona de tudo
Ela é a rainha do lar
Ela vale mais para mim
Que o céu, que a terra, que o mar”

Ela cuidava de tudo. 



Cuidava da casa depois de trabalhar o dia inteiro, subindo e descendo a serra todos os dias (morávamos em Santos e ela trabalhava em Sampa. Depois veio pra o escritório do IAA em Santos, ali na Augusto Severo). Nos finais de semana, em casa, fazia bico de manicure/pedicure, para deixar as vizinhas e amigas mais elegantes. Só não fazia isso, quando tinha jogo do Peixe na Vila Belmiro. Pegava os dois pelas mãos e lá íamos nós, Ela, eu e o Luiz Antonio, pro Urbano Caldeira, ver Dorval, Mengalvio, Coutinho, ELE e Pepe, ídolo dela,  arrasarem nossos adversários. Na volta, picolé de coco pra mim, de uva pro Lubi e de chocolate pra ela. Mas só quando o Peixe ganhava. Caso contrário, a volta era só tristeza, sem espaço pra alegria do sorvete.
Ela também adorava cinema e música clássica. Vez por outra eu ia ao cinema com ela, nos sábados à noite. Tinha eu lá meus 7 anos, estudava no Olavo Bilac (escola municipal, que tinha anexo um posto de Puericultura) mas entrava nos filmes proibidos, porque minha mãe jurava ao porteiro que eu ficaria de olhos fechados. E ficava, honrando a palavra da dona Olinda. Só uma vez, confesso,  abri os olhos pra ver quem era a dona daquela voz, no filme A Lenda da Montanha de Cristal. Identifiquei a bela loira (não consegui levantar o nome da atriz) e voltei para minha condição de ouvinte. Era legal imaginar o que se passava na tela, quando não caia no sono.

“Ela é a palavra mais linda
Que um dia o poeta escreveu
Ela é o tesouro que o pobre
Das mãos do senhor recebeu”

É impossível discordar do que fala este verso da música. Você é capaz de imaginar uma definição melhor? Duvido! Dona Olinda merecia estas palavras.

“Mamãe, mamãe, mamãe
Tu és a razão dos meus dias
Tu és feita de amor e de esperança
Ai, ai, ai, mamãe!
Eu cresci, o caminho perdi
Volto a ti e me sinto criança”

Lindo, né?

Pois é, neste domingo será um dia em que muitas mães vão chorar diante dos seus fogões, tristes porque não vão poder sujar seus aventais com ovo, farinha, molho de tomate preparando o prato mais querido dos seus filhos amados.

Por isso, ainda que a "sua" dona Olinda já tenha nos deixado, faça uma oração para ELA, sua mãe amada. E, se ELA ainda estiver conosco, espere passar esta porcaria da pandemia e corra até ELA e diga quanto a ama, acompanhado de um abraço que não tenha fim.


chicolelis

Clique na telinha e ouça a música.

A letra da música
Mamãe
Autoria: Herivelto Martins e David Nasser

Ela é a dona de tudo
Ela é a rainha do lar
Ela vale mais para mim
Que o céu, que a terra, que o mar

Ela é a palavra mais linda
Que um dia o poeta escreveu
Ela é o tesouro que o pobre
Das mãos do senhor recebeu

Mamãe, mamãe, mamãe

Tu és a razão dos meus dias
Tu és feita de amor e de esperança
Ai, ai, ai, mamãe!
Eu cresci, o caminho perdi
Volto a ti e me sinto criança

Mamãe, mamãe, mamãe

Eu te lembro o chinelo na mão
O avental todo sujo de ovo
Se eu pudesse eu queria outra vez, mamãe
Começar tudo, tudo de novo.

18 comentários:

  1. Muito legal essa lembrança. Eu já sonhei com minha mãe esta semana. Mesmo inconsciente, dormindo, nosso cérebro nos remete a lembranças antigas. A minha cozinhava bem e me botava para moer amendoim para fazer paçoca. Era uma delícia.

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    1. Ei Nereu, estou publicando coisas que não nos remetam a estes tempos horríveis que vivemos. Temos que reagir, escrevendo coisas que nos alegrem, que nos emocionem e não ficar falando de marca de cerveja ou de um 19 qualquer. Temos que rebater com alegria e emoções. Abraços

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    2. Nereu, velho de guerra, bom ter você e Chico juntos numa conversa sobre mães. Recordar é viver - é piegas mas eu gosto -, e recordar a mãe é viver duas, três, 10, 100, 1000... Belas lembranças, Chico. Lembro muito de uma outra música, cantada por Carlos Galhardo, MÃEZINHA QUERIDA de Getúlio Macedo & Lourival Faissal. Lembranças da cozinha e da máquina de costura da minha mãe,dona Rosa, uma figura ímpar como são todas mães. Obrigado pela lembrança que me remeteu as minhas também.

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  2. Bela homenagem!
    Você é crack, e pelo visto Dona Olinda fez um bom trabalho.
    Me emocionei.
    Um abraço chico.

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    1. OI Edu, obrigado pelo carinho. Dona Olinda era demais mesmo.

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  3. Que legal essa lembrança e narrativa sobre sua mãe. A minha partiu há 17 anos e não tem um só dia que eu não lembre dela. Bj

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  4. Essa "unknown' sou eu...rsrs

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    1. OI minha querida Rachel, bom que você gostou e o texto te remeteu à figura que você segue amando até hoje, como eu à dona Olinda.

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  5. Adorei, tio! Linda lembrança de sua querida mãe!

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    1. OI Maira, dona Olinda era demais mesmo, Sua irmã lembra dela. Das bagunças do apartamento na Independência.

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  6. Chicolé, belíssima homenagem. Veio do fundo do coração. Bjs

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    1. Veio mesmo, bem lá do fundo!!!Mas quem és tu "unknown'? Abraços

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  7. Bonito, Chico. Me emocionou muito. Ah, lembro da d. Olinda mais como na segunda foto. Belíssima!

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  8. OI Anônimo, daquela primeira foto, com pinta de atriz, nem eu lembro (heheheheheheh). Muito obrigado, abraços

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  9. Bela homenagem, amigo Chico Lelis. Palavras que saem de dentro do coração e transbordam em boas lembranças. Lembro dessa música, cantada pela nossa eterna Sapoti, que emociona até os dias de hoje e me remete aos tempos de criança, lá pelos meus nove, dez anos. Dona Olinda e Dona Ana se revelam nessa canção e na pureza de uma alma recheada de amor chamada Mãe. Um abraço, querido. Fica em casa.

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    1. Ei Joaquim, bom receber seu comentário, citando dona Ana e mencionando a Sapoti, que as duas certamente adoravam. Abraços

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  10. Muito linda homenagem .Como é ótimo recordar os momentos ao lado de nossa mãe que, sempre está ao nosso lado , mesmo estando no plano espiritual.

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