segunda-feira, 30 de setembro de 2019

EU, ELIS E MARIA RITA


Corria o ano de 1971 (ou seria 1972?). O Clube de Regatas Santista trazia Elis Regina a Santos. Ninguém queria perder o show, muito menos eu, que tinha uma vantagem sobre qualquer outra pessoa que lá estivesse. Era repórter de A Tribuna, meu querido jornal, onde comecei minha vida profissional há 50 anos. E fazia cobertura noturna, com uma jornada de 10 horas. Naquele tempo eram três os horários de trabalho do jornalista: 5, 7 e 10 horas. E iria entrevistar a maravilhosa Elis Regina. Era emoção demais para quem tinha dois/três anos de profissão.

Então, dias antes do meu "encontro" com Elis, eu não cabia dentro da minha ansiedade. Demais! Imagina, eu entrevistando Elis Regina, a maior das nossas cantoras (até hoje!). No dia, meu nervosismo era visível e o relógio, que não andava, aumentava a ansiedade.

Finalmente chegou a hora.

Cheguei ao Regatas com antecedência, no horário marcado pela produção da Elis. Quando me apresentei, o representante pediu-me para esperar um pouco porque ela falava ao telefone. Assim que acabasse, eu poderia entrar no camarim.

Mais ansiedade, mais nervosismo. Deus do Céu!!!!

- Pode entrar!


E lá fui eu em direção à Ela todo feliz.

Quando me apresentei - "sou repórter de A Tribuna" - derrubei toda a boa vontade, a disposição que ela tivesse para dar a entrevista. E descobri a razão do apelido "Pimentinha".

- Jornalistas, vocês são todos uns "FDP", não valem nada, só querem ver a desgraça dos outros.

E soltou outros tipos de ofensas, se recusando a dar a entrevista que eu passara dias sonhando.

- Vá à m....., respondi.

Dito isso, virei as costas, saindo do camarim.

O agente me pediu desculpas e depois descobri que o telefonema teria sido do Ronaldo Boscoli, seu companheiro, que havia sido visto com alguma mulher em cenas não lá corretas para quem tinha uma relação séria com alguém. Eu entendi a minha musa da música e fiquei com "ódio" do Boscoli que estragou minha entrevista.

O show foi bárbaro e minha matéria, publicada no dia seguinte, em nenhuma linha, faz menção ao incidente. Ela tinha todo o direito de estar brava. E tinha que descontar em alguém. Pena que foi em mim. Mas continuo adorando e ouvindo Elis até hoje e achando que até hoje é a melhor de todas. 

Maria Rita



Anos depois, ali pelos anos 90, tornei-me amigo do Cesar Camargo Mariano (um dos melhores músicos desta terra descoberta por Cabral e que me ensinou a beber Jack Daniel's além da forma cowboy/shot), que foi casado com Elis, e pai da Maria Rita. A menina que conheci quando tinha 6 ou 7 anos. Uma gracinha, que tempos depois tornou-se a grande cantora que é, com um DNA na voz que inegavelmente vem da Elis.

Então, quando ela começou a cantar, ver seu primeiro show. E fiquei lá pensando: um dia contar pra ela minha história com a sua mãe. O tempo passou, Maria Rita se consolidou na carreira e ai aconteceu. Durante um lançamento da Fiat, em São Paulo, alguém contou para o pessoal da produção que eu gostaria de falar com ela.

Maria Rita, claro não se lembrava de mim, mas me conhecia de nome por seu pai citar-me algumas vezes. E ela aceitou.

- A Maria Rita vai te receber depois do show, alguém me avisou.

E sabe o que aconteceu? Toda aquela ansiedade de anos atrás voltou. Fiquei nervoso, não consegui jantar direito, e nem mesmo o bom espumante servido ajudou a relaxar.

E lá fui eu, pronto para contar pra Maria Rita, meu episódio com Elis Regina.

Não fiquei bêbado, e nem relaxei. Quando cheguei na frente da Maria Rita, estava tão emocionado e ao mesmo tempo tenso, que não consegui falar com ela direito. 

Queria contar minha história com a Elis e minha amizade com o pai dela, mas não consegui. E emoção foi muito grande. 

Hoje ouço Maria Rita e Elis (e também o Cesar. O "Duo" é lindo, assim como a música Guaicá, que ele compôs em homenagem à praia no Litoral Norte paulista), tudo em CDs, porque gosto do ritual de escolher o "disco", colocá-lo no "som" e curtir minhas músicas.

Ah, ia me esquecendo de mencionar a "vingança" da Elis. No dia 19 de janeiro de 1982, dia do meu aniversário, recebi o mais triste presente de aniversário de toda a minha vida. 

chicolelis 

2 comentários:

  1. Intenso afeto e des-afeto com quem se admira, nos entorpece. Mas nos fortalece por que temos o privilégio da experiência, que afinal só acontece para aqueles que se atrevem. Parabéns pelos atrevimentos...pelos encontros e pá memória construída e compartilhada. Beijos! Bell Machado.

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    1. Oi Bell, boa dedução sobre os ocorridos.E obrigado pelo prestígio.Beijos, chicolelis

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