quarta-feira, 25 de setembro de 2019

O DIA EM QUE TEVE FESTA NO CÉU

Escrevi este texto, lá se vão mais de 10 anos, quando perdi um grande amigo e a Medicina um médico extraordinário. 


Estou pensando que ontem, em Santos, enquanto chorávamos o desaparecimento do amigo Luis Fernando Chierighini Bueno, lá no céu estava a maior festa desde o dia anterior. Por que sei disso? Porque minha mãe Olinda, que se foi antes dele, era festeira e adorava este que foi um dos grandes médicos que conheci na vida, e que ela sentia falta do seu médico e amigo. 


Dona Olinda, a minha mãe festeira.

Foi ele quem recebeu minha filha quando ela nasceu, lá se vão 32 anos. Ele e a "tia" Lais, sua esposa, a pediatra que a pegou no colo e tempos depois virou sua professora na Faculdade de Medicina de Santos, onde minha filha estudou. 

Mas, a maior das minhas lembranças do Dr. Luis foi no começo dos anos 80, quando a minha mãe, acometida por um mal súbito, estava internada no isolamento da Santa Casa. Numa certa manhã, ele tratava da criação das suas galinhas e sua horta, na casa do casal, em Santos. Repentinamente, ele deixou tudo de lado, correu para dentro de casa, vestiu uma camisa, que nem chegou a abotoar e, de chinelos de dedo mesmo, saiu em disparada com seu carro, rumo ao hospital. 

Indagado pela Lais sobre o que acontecia: "dona Olinda está precisando de mim". Foi a resposta. E chegou ao hospital, entrou esbaforido, dirigindo-se ao local onde minha mãe estava, com seus chinelos, bermudas e camisa aberta. Alguém lhe passou um jaleco e lá se foi ele correndo. Quando abriu a porta onde estava dona Olinda, ouviu dela um "Ah! doutor Luis Fernando, ainda bem que o senhor veio, eu estou passando muito mal, achava que vou morrer. Por isso pedi a Deus que trouxesse o senhor aqui". Examinando minha mãe, constatou nela uma hemorragia interna, que foi interrompida. Não fosse isso, ela morreria em pouco tempo, o que veio ocorrer alguns anos depois.

Quem avisou o doutor Luis Fernando, meu querido amigo? Jamais saberemos. Mas o que sei é que, ao recebê-lo lá no alto minha mãe deve ter dito: "ainda bem que o senhor chegou, doutor Luis Fernando, eu estava morrendo de saudades". 

Um grande abraço para você, meu querido amigo e, por favor, diga a ela que morro de saudades dela. Carinho.

chicolelis

Um comentário: