terça-feira, 14 de abril de 2020

ACREDITE, ESTA É UMA ESCOLA PÚBLICA


Aqui, para escapar um pouco das más notícias nestes tempos virais, vamos falar de um belo trabalho de inclusão. Por isso, nos dedicamos a contar uma experiência intitulada Projeto Brincar, coordenado por Carla Mauch (que viabilizou este trabalho),  iniciativa da Fundação Grupo Volkswagen (FVW), concebida e desenvolvida pela OSCIP - Mais Diferenças,  em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. A FVW, com 40 anos de existência, foi criada para desenvolver projetos de responsabilidade social da Volkswagen do Brasil. Atualmente trabalha em 3 eixos: mobilidade urbana, mobilidade social e  inclusão de pessoas com deficiência. Neste último eixo, é que está inserido o Projeto Brincar.

E o que é o Projeto Brincar?

Ele envolve ações de formação e acompanhamento para profissionais de escolas públicas de educação infantil inclusiva, que trabalham com crianças com e sem deficiência, juntas; produz, sistematiza e disponibiliza materiais pedagógicos acessíveis, desenvolve atividades lúdicas e brincadeiras com famílias e as crianças. Isto porque, acredita na educação inclusiva como um direito para todas as crianças desde a primeira infância; que todas elas, com e sem deficiência devem estudar juntas.

"Além disso - conforme explica Arthur Calasans, consultor de Formação do Projeto - ele contribui com o fortalecimento das políticas públicas de educação inclusiva".

Então vamos falar sobre o Projeto Brincar, contando cenas que assistimos em uma das escolas onde o projeto é desenvolvido. Visitamos a escola EMEI José Rubens Peres Fernandes, situada na Zona Leste de São Paulo, mais precisamente no bairro do Cangaíba, a 16 quilômetros de distância da Praça da Sé, marco zero da cidade de São Paulo.

Naquela escola, crianças de 4 a 6 anos e todos os adultos tem a possibilidade de conviver, aprender, brincar, inventar e descobrir novas formas de coexistência, onde a diversidade é um valor. Um lugar que dá tempo para elas descobrirem novos mundos e espaços, onde um galho de árvore, vira uma ponte; um pedaço de pano, vira um tapete mágico; um pote de iogurte, vira um caminhão, e mais uma infinidade de cenas que as crianças são capazes de fabular se, nós como adultos, propiciamos estas experiências e entramos no jogo e na brincadeira junto com elas.

Nós, que estamos longe do cotidiano das escolas públicas, imaginamos e criamos narrativas negativas, de terror. Por exemplo, que são instituições que apresentam condições precárias, que os profissionais são mal formados, que não têm espaços para brincar, que as crianças são violentas, que as crianças não têm acesso aos livros, às artes, à tecnologia... e mais uma série de lendas que somos capazes de fabular...

"Quando pensamos em crianças com deficiência, um universo mais distante ainda do que o das escolas públicas se descortina. Imaginamos que é um equívoco estudarem juntas com crianças sem deficiência, que uma escola especializada e segregada é o melhor lugar para elas. Mas elas não aprendem. Muitas destas ideias equivocadas se dão pela  distância, por não termos a oportunidade de conviver com pessoas portadoras de deficiência". destaca Paula Oiano, coordenadora pedagógica da escola, quando do início do Projeto. 

Pois aqui queremos contar uma história que não combina com o que escrevemos acima: Fomos à escola em um dia quente de verão. A escola pública da periferia tem um espaço muito melhor do que muitas escolas particulares, os professores têm um projeto pedagógico muito consistente – nas paredes vemos produções das crianças que fazem referência à natureza, ao teatro, a dança e ao brincar.

"Os pequenos, com diferentes características formam um lindo mosaico onde o heterogêneo é explicitado: meninas e meninos negros; crianças angolanas, haitianas, bolivianas; crianças falantes, crianças curiosas, crianças desconfiadas, crianças em silêncio, crianças com deficiência e crianças sem deficiência. Todas elas podem fabular que são cantoras, cozinheiras, motoristas, engenheiras e, o que mais elas quiserem ser", explica a professora Débora Ganini.

Nos bastidores, reunidos crianças e professora, se preparam para apresentação de uma peça de teatro da Linda Rosa Juvenil, que é um emocionante projeto onde todos estão muito envolvidos. O palco onde vai ser apresentada a peça é um parque e a sala de atividades, se transformou em um camarim. Ali todos se prepararam para a estreia, o figurino e o cenário foram construídos pelas crianças.  Elas  assumem os papeis de bruxa má, rei, uma criança com paralisia cerebral é a Linda Rosa Juvenil, outra criança que empurra a cadeira de rodas da Linda Rosa, quando perguntada sobre qual é o seu papel diz, "eu sou as pernas dela". Em paralelo a plateia canta, “o tempo voa, o mato cresce”.

"Bato palmas para as professoras, alunos e para a escola que nos permitiram neste dia ver a Volkswagen, além dos carros.  Ver as crianças diferentes mas felizes entre si, e com os mesmos direitos brincando,  desenvolvendo-se, aprendendo e fazendo com que um jornalista - com mais de 50 anos de carreira - que já viu e escreveu muitas histórias, pudesse visualizar, emocionando, que existem outros mundos, desconhecidos como esse, onde a desigualdade, a competição e a intolerância não têm lugar e, onde quiçá possa estar o repositório dos adultos do futuro que conseguirão construir um país melhor para todos! Mesmo após estes terríveis dias virais", chicolelis.

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